Maturidade
Guto Garcia
Hoje estou sobre minha cama de colchão forrado por mais de mil decepções.
Sento nu e sinto o golpe gelado de infinitos arrepios,
E neste cenário bucólico, penso nas centenas de léguas de solidão e
saudade,
Vejo em mim o pior se aproximando, as rugas, a canseira, a dor na coluna.
Minha idade ainda é tenra, mas minha alma é velha e ranzinza, até um
pouco vingativa.
Minhas lastimas até nem foram muitas nem definitivas, mas suficientes por
me deixar mais duro, incrédulo.
Hoje voo raso, mas suave e discreto,
Minhas assas e penas não se mostraram longas como pensei um dia,
E minha suposta liberdade é na realidade uma ofensa.
Pois por mim mesmo demonstrei se incapaz,
Julguei-me e perdi, e por isso me refugio do julgamento de outros.
De minha valentia de infante, substitui pela covardia dada pela
responsabilidade,
Hoje sou covarde, tímido e conveniente, defeitos construídos pela
maturidade.
E sobre estas léguas e léguas de solidão e saudade percorro para meu
exílio,
E neste exilo tento me refugiar do concreto, mas cada passo é dele que me
aproximo.
Do solido, do absoluto, do real.
E como um tapa no rosto, surgem mais marcas, de rugas, de canseira, de
dor na coluna...